Expedição científica à Antártica tem apoio financeiro da Fapergs
Instituição vinculada à Sict investiu R$ 2,5 milhões no INCT da Criosfera
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Responsável pela mais recente expedição científica brasileira à Antártica, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera é um projeto pioneiro cofinanciado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), vinculada à Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict). A Fapergs investiu R$ 2,5 milhões em custeio, capital e bolsas para as equipes das instituições gaúchas envolvidas.
Cerca de R$ 400 mil dos recursos da Fapergs foram utilizados em equipamentos para desenvolver o módulo Criosfera 2, instalado na Antártica durante a expedição realizada entre dezembro de 2022 e janeiro deste ano. Além disso, o módulo Criosfera 2 - um contêiner de 6 metros de comprimento com isolamento térmico para até -60°C onde foram colocados sensores, equipamentos científicos e material de acampamento - teve o conceito desenvolvido no Brasil e foi construído no Rio Grande do Sul, em uma parceria entre o Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que faz a gestão do INCT da Criosfera, e a empresa Rodosinos, de Portão.
O glaciologista e professor da UFRGS Jefferson Cardia Simões liderou a expedição científica brasileira ao interior da Antártica. Ele conta que foram cinco anos para obter os recursos financeiros necessários e um ano para preparar a parte logística, com participação de pesquisadores da UFRGS, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e de outras cinco instituições de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará. A iniciativa faz parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
Conforme relata Simões, a equipe expedicionária gaúcha foi dividida em dois grupos: o primeiro se dirigiu à geleira da Ilha Pine, localizada no meio do manto de gelo da Antártica Ocidental, para realizar um testemunho de gelo que incluísse os últimos 400 a 500 anos da história climática da região. Os estudos de testemunhos de gelo (cilindros de neve e gelo obtidos pela perfuração de geleiras e depois analisados quimicamente) são considerados a técnica mais avançada para reconstruir a história do clima da Terra.
“Mas qual o interesse do Brasil nisso? A região da amostra recebe sua precipitação dos mares de Amundsen e Bellingshausen, onde se formam grande parte das frentes frias que chegam ao Brasil. Nosso grande objetivo é entender o papel desses mares na variabilidade do clima do sul do país”, explica Simões.
Já o segundo grupo fez a implantação do módulo Criosfera 2 em um local ao sul do mar de Weddell. Segundo Simões, é onde se originam massas de ar que trazem frentes frias, inclusive precipitação de neve, ao sul do Brasil. O lugar também possibilita estudar as conexões entre a variabilidade do clima da Antártica e a do sul do Brasil, bem como monitorar o transporte de poluentes da América do Sul para a Antártica.
Duas expedições em 10 anos
No verão de 2011/2012, o INCT da Criosfera instalou o primeiro módulo brasileiro no manto de gelo da Antártica Ocidental, o Criosfera 1, que contribuiu para descobertas importantes sobre o impacto da radiação ultravioleta nos cristais de sal marinho e no clima local. Dez anos depois, o Criosfera 2 veio para aprimorar o entendimento sobre as frentes frias que atingem o Brasil e fenômenos como o El Niño. “Nossa missão reforça o protagonismo brasileiro nos fóruns antárticos científicos e políticos. Além disso, mostra a maturidade dos grupos científicos nacionais, que estão habilitados a organizar, liderar e executar missões próprias, às vezes até 2.500 quilômetros ao sul da Estação Antártica Comandante Ferraz e sob condições climáticas muito mais agressivas”, afirma.
Além da Fapergs, as outras instituições cofinanciadoras do INCT da Criosfera são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).