Dia da Biodiversidade: startup com aporte do programa Centelha regenera ecossistemas por meio da agricultura
Técnica reduz emissão de gases de efeito estufa e erosão do solo, auxiliando na mitigação e adaptação às mudanças climáticas
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Uma iniciativa gaúcha de consultoria e capacitação voltada para restauração ecológica e agricultura regenerativa impacta, de forma positiva, a relação entre produção agrícola e meio ambiente no estado, recuperando e potencializando a relação ser humano-natureza. A PURA - Culturas Regenerativas & Soluções Baseadas na Natureza, caracterizada por ser um negócio de impacto socioambiental, fomenta projetos de base comunitária, visando à mitigação e à adaptação da agricultura diante das mudanças climáticas. A startup recebeu aporte de R$ 66,68 mil do Programa Centelha RS, que é operacionalizado, no Rio Grande do Sul, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), vinculada à Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS (Sict).
A startup, caracterizada como greentech, foi selecionada, em 2022, para integrar o programa. Através do edital Centelha 2, que investiu R$ 3,33 milhões no estímulo à criação de empreendimentos inovadores para disseminar a cultura inovadora no RS, a PURA teve a operação maximizada e possibilitada pelos recursos, destinados à pesquisa. Além disso, a startup recebeu cursos profissionalizantes, mentorias, capacitações e auxílio no desenvolvimento do seu modelo próprio de negócio, de forma a garantir o sucesso de suas ações profissionais. Ainda em parceria com o Programa Centelha, a PURA contratou quatro bolsistas para otimizar a operação, com melhor comunicação, gestão e processamento de dados.
Um exemplo prático da atuação da startup pode ser conferido no Instituto Arca Verde, em São Francisco de Paula, onde a PURA atuou na restauração de uma área degradada, trazendo a riqueza de flora e fauna de volta ao espaço. Com o Dia Internacional da Biodiversidade celebrado nesta segunda-feira (22), iniciativas como a PURA têm sua importância destacada diante das discussões sobre mudanças climáticas.
A agricultura é responsável pela emissão de 23% dos gases estufa produzidos pela humanidade, dentre eles o gás carbônico. A agricultura regenerativa, como proposta, se propõe a mitigar essa quantia, optando, por exemplo, pela rotação de culturas no solo e pela valorização da biodiversidade em uma plantação. Além disso, ela otimiza o uso da água e evita a contaminação com ativos químicos. Assim, esse modo de fazer a agricultura tem impacto positivo a curto, médio e longo prazos para a natureza, a sociedade e a economia, como demonstrado na propriedade Arca Verde.
Impacto positivo nos Campos de Cima da Serra
A fazenda Arca Verde recebeu a intervenção da PURA a partir de 2021, e desde 2005 já atua como um centro de pesquisa e disseminação de diferentes tecnologias sociais, trabalhando com soluções baseadas na natureza em diferentes áreas, como agroflorestas, bioconstrução e saneamento ecológico. Seus 25 hectares são ocupados por vegetação do bioma Mata Atlântica, mais especificamente de floresta ombrófila mista, que é uma floresta de araucária que vem sofrendo perda da vegetação nativa há décadas.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do SOS Mata Atlântica, o município de São Francisco de Paula, localizado nos Campos de Cima da Serra, já perdeu 80% da sua vegetação nativa. Além disso, estima-se que apenas 3% das florestas de araucária originais tenham restado.
Buscando conservar essa vegetação nativa, a Arca Verde funciona com um plantio de sistemas agroflorestais agroecológicos. Essa forma de lida acarreta na diminuição da erosão do solo, no aumento da qualidade térmica local - que contribui para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas - e na resiliência do sistema, fazendo com que ele tenha capacidade de se recuperar de distúrbios. Foi através deste princípio, utilizando prioritariamente espécies nativas, que o Instituto, com orientação da PURA, foi capaz de regenerar uma área de pasto degradado que fazia parte da fazenda. O Arca Verde realiza a coleta de mudas para o Jardim Botânico de Porto Alegre, colaborando para a conservação de espécies e da biodiversidade.
O sucesso da agricultura regenerativa no local também fica evidenciado quando comparadas a Arca Verde e a propriedade vizinha, que teve sua floresta de araucária nativa cortada no final do século 19. Desde então, a área teve uma monocultura de pinus, plantados por volta dos anos 1950 e colhidos há 10 ou 15 anos. Mais recentemente, após um período como terra improdutiva, a propriedade passou a produzir batatas e, depois, soja.
De acordo com Arthur Venturella, CEO da PURA, a diferença entre os dois espaços é visível, e encontram-se na propriedade vizinha o que ele chamou de “desserviços ambientais” causados pela degradação ambiental. São exemplos disso a perda de solo, que é lavado/lixiviado; a grande erosão em virtude das chuvas fortes (por não haver cobertura de solo) e a evapotranspiração em dias muito quentes. Isso também reflete na maior erosão dos rios à jusante e na seca de rios e córregos que nunca haviam secado antes (de acordo com o registro dos 15 anos anteriores), diminuindo a oferta dos serviços ecossistêmicos ou contribuições da natureza para sociedade que aquele ambiente pode gerar.
Projetos internacionais
Como forma de reconhecimento ao trabalho que realizam, a PURA participa, atualmente, do Youth Food Lab, programa de incubação do World Food Forum facilitado pela FAO, em parceria com a Wageningen University & Research (Holanda), IAAS (Associação Internacional de Alunos de Ciências Agrárias e correlatas) e I4N, onde devem receber mentorias, seminários e cursos de capacitação até novembro de 2023. Além disso, a startup esteve na programação do South Summit Brazil 2023, como um negócio de impacto na Rota da Inovação. Em 2022, foi uma das startups brasileiras vencedoras do Latam Edge Award.